Um espetáculo social
O capítulo “A separação consolidada” é o primeiro capítulo do livro “A sociedade do espetáculo” de Guy Debord. Não só o primeiro capítulo, mas todo livro é uma crítica à sociedade moderna consumista, guiada pelos modos de produção capitalista. Neste primeiro capítulo, o autor explana sobre o que seria essa sociedade do espetáculo. Debord (2003) afirma que nas sociedades em que funciona as condições modernas de produção, há uma acumulação de espetáculos, em que o que se torna essencial, mais essencial do que o vivido, é a representação. Essa sociedade baseada na representação (DEBORD, 2003) é objeto de pura contemplação. Importante também lembrar que essa representação não funciona apenas para contemplação doutro, mas também do próprio indivíduo, “o mentiroso mente a si próprio” (DEBORD,2003, p. 14).
De acordo com Debord (2003) o ponto central de sua teoria é que a alienação é mais do que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico individual. É a consequências do modo capitalista de organização social que assume novas formas e conteúdo em seu processo dialética de separação e reificação da vida humana. Como uma constituição moderna da luta de classes, o espetáculo é uma forma de dominação da burguesia sobre o proletariado e do espetáculo, sua lógica e sua história, sobre todos os membros da sociedade;
Este texto não poderia ser mais atual. Debord, muito antes da televisão ser uma grande força e muitos antes das redes sociais presentes na Internet, já apontou os caminhos que a sociedade estava tomando. Com a força que a televisão, a Internet e os demais meios de comunicação de massa ganharam nas últimas décadas, a força do espetáculo sobre a vida da sociedade só aumentou. É a grande mídia que transmite o modo de vida socialmente ideal e os temas mais relevantes a serem comentados. Com o avanço foram criadas plataformas digitais, aplicativos que têm comunicação simultânea. É tão forte a sua força que somente o que ela transmite é que seria "verdade”, o que de fato teria acontecido. Ou seja, é real apenas o fato de as pessoas tentarem ser o que não são e buscar alcançar algo fora de sua realidade e acima de tudo causar impacto na vida das pessoas.
Em episódio “Queda Livre” de Black Mirror (3x01), nos faz refletir acerca da invasão das redes sociais que vivemos hoje e nos leva a perceber como elas podem ser perigosas e irreais. Não podemos esquecer que muitas vezes a ambição pode nos levar a caminhos ruins e que muitas vezes não vale a pena no fim, porem a cena final nos leva a perceber que só depois que ela foi parar no fundo do poço é que ela teve uma libertação de poder ser quem quiser, falar o que quiser sem ser julgado pela mídia social assim, dizendo. Já em o filme “O Show de Truman” (1998) a finalidade real do filme é mostrar que a realidade do mundo é aceita conforme ela nos é dada, o diretor entende que deu a Truman a chance de levar uma vida normal, uma vida até melhor que a vida das outras pessoas, mesmo que essa vida seja assistida 24hs por dia.
Portanto, muitas vezes, paga-se quase o dobro do que vale um produto somente para adquirir o status que vem junto a ele, evidenciando e intensificando o fetichismo da mercadoria. Outro ponto é a necessidade de se fazer aparecer. Aquilo que é vivido só tem valor quando é exposto nas chamadas redes sociais. Por fim, é importante ressaltar que a sociedade hoje vive em torno de algo muito maior chamada Tecnologia, e que ela pode prejudicar a quem não sabe usar da forma ideal. O espetáculo social imposto pela sociedade é a consequência do modo capitalista de organização, a dominação através dos meios de comunicação, teoricamente somos apenas mercadorias que podem ser substituídas por outra melhor. Então me conta, sua vida é um espetáculo para as outras pessoas?
Referências :
DEBORD, Guy. A separação consolidada In: A sociedade do espetáculo. Projeto Periferia. (e-book) - capítulo 1 (p. 13 - 27)
Filme: O Show de Truman (1998). Direção: Peter Weir
Disponível em : Youtube, Google Play e outras plataformas
Série: Black Mirror (3x01) episódio “Queda Livre”.
Disponível em: Netflix
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